quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Feliz 2016 !!


ESPERANÇA

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as buzinas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E

— ó delicioso vôo!

Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,

Outra vez criança...

E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá

(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mário Quintana, poeta brasileiro nascido em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Mário Quintana (1906-1994)

via GABINETE DE HISTÓRIA

terça-feira, 7 de abril de 2015

A montagem da colonização na América portuguesa (séc. XVI-XVII)

PERÍODO PRÉ-COLONIAL

A América portuguesa só era uma terra longínqua e desabitada aos olhos dos portugueses. Na realidade, era terra de milhões de índios (de diferentes culturas e formas de organização), que desconheciam a Europa e seus ideais expansionistas.

De qualquer forma, Portugal apossou-se do novo território exatamente no momento em que encontrava a rota para as ricas especiarias das Índias. Assim, não deu grande importância às terras americanas. O período entre 1500 e 1530 é denominado pré-colonial, pois, nele, só foram registradas as visitas de duas expedições exploradoras (1501 e 1503) e duas expediçõesguarda-costas (1516 e 1526). A única atividade econômica desenvolvida nessa época foi a exploração predatória de pau-brasil, obtido através de escambo (troca de mercadorias) com os índios.

Outros países europeus passaram, então, a se interessar pelaexploração das terras que eram chamadas de “Índias Ocidentais” (América) - em especial França, Holanda e Inglaterra. Diante das incursões de corsários franceses, que também praticavam o escambo com os índios, o governo português foi obrigado a mandar uma expedição colonizadora para tomar posse do território. Essa expedição, comandada por Martim Afonso de Souza, partiu de Portugal e fundou a Vila de São Vicente (1532), onde introduziu o cultivo da cana-de-açúcar.

OCUPAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO

A colonização da América portuguesa por Portugal sofreu influência de diversos fatores, que diferenciam a ocupação dessas terras de qualquer outro modelo desenvolvido no continente. A manutenção das possessões portuguesas no Oriente exigia grandes contingentes populacionais. As febres e guerras dizimavam essa população, que tinha que ser continuamente reposta, por isso, colonizar a Terra de Santa Cruz, utilizando o latifúndio e a mão-de-obra escrava, não criaria para Portugal o risco de ter sua população drasticamente diminuída.

Viajar até o Novo Mundo era um grande risco, tanto que muitos portugueses morriam nas travessias marítimas, vitimas de acidentes, tempestades, lutas com piratas e escorbuto (doença provocada por deficiência de vitamina C, que ocasiona hemorragias e pode levar à morte). E fora os colonos que para cá vieram que eram degredados, isto é, presos condenados à expulsão do reino, ficando confinados nas regiões mais distantes..

Era vedado à nobreza exercer "ofício mecânico" (trabalhar com as mãos), bem como o "comércio a retalho" (comércio varejista). Aos filhos da famílias nobres, ficava reservada as carreiras militar, eclesiástica e do alto funcionalismo público, na administração do Império. Em outras palavras, ao contrário do espírito empreendedor que os puritanos (calvinistas) desenvolveram posteriormente no século XVII na América do Norte, os lusitanos não cultivavam o trabalho como algo digno, muito pelo contrário. O trabalho manual era visto como castigo e reservado para escravos e empregados subalternos.

Os postulantes a cargos públicos ou a títulos de nobreza deviam comprovar, através de atestados de pureza de sangue, que não descendiam (pelo menos nas últimas três gerações de sua família) de judeus, muçulmanos ou pessoas que tivessem passado pelo exercício de ofício mecânico. Dessa forma, todo aquele que pretendesse ascender à nobreza deveria se manter longe do trabalho braçal.

Sob todas estas condições, Portugal lançou mão de um artifício que já havia alcançado bons resultados em ilhas do Atlântico e foi oficialmente introduzido aqui em 1534. Nesse ano, por ordem do rei Dom João III, o Brasil foi dividido em 15 faixas perpendiculares à linha da costa, criando-se, assim, ascapitanias hereditárias.



O objetivo básico era delegar a particulares a tarefa de colonizar a América Portuguesa, uma vez que tal empreitada mostrava-se muito dispendiosa. O capitão-donatário (responsável pela capitania) recebia as terras através de um documento chamado Carta de Doação, e havia uma série de direitos, estabelecidos pela Carta de Foral, dentre outros:
-       distribuir lotes de terra, as sesmarias, aos colonos de sua confiança;
-       fundar vilas;
-       impor a justiça;
-       escravizar os habitantes nativos;
-       cobrar impostos;
-       catequizar os indígenas e impor a religião católica.

Apesar de ter a posse de fato das terras, era vedado ao donatário vender a capitania, pois a propriedade de direito era do rei de Portugal. Desta forma,as capitanias constituíram-se num regime politicamente descentralizado, fundado em unidades autônomas e que, se numa certa medida, lembram a estrutura política do feudalismo, economicamente visavam à exportação para a metrópole, no caso, Portugal.

A medida não atingiu resultados satisfatórios, uma vez que somente as capitanias de São Vicente, administrada por Martim Afonso de Souza, ePernambuco, sob a responsabilidade de Duarte Coelho, puderam prosperar devido ao sucesso da cultura canavieira. As demais, entregues à pequena nobreza portuguesa ou a cristãos-novos, não atingiram sucesso por vários motivos, seja pelos ataques indígenas, seja pela falência dos donatários ou simplesmente por causa do desinteresse da parte de outros nobres que sequer chegaram a viajar para a colônia.



Em 1548, através do Regimento, instituído por Dom João III, foi criado o primeiro Governo-Geral do Brasil, com o objetivo de auxiliar as capitanias e representar o rei na colônia. O primeiro titular desse cargo foi Tomé de Souza, que trouxe consigo colonos, degredados, as primeiras cabeças de gado e escravos africanos. Com o governador, chegou também um pequeno grupo de jesuítas, comandado por Padre Manuel da Nóbrega, que criou o primeiro colégio da colônia, na recém-fundada cidade de Salvador. Seus auxiliares diretos ocupariam os cargos de ouvidor-mor(responsável pela aplicação da justiça) e provedor-mor (responsável por todos os negócios ligados à Fazenda Real).

Durante o governo de Tomé de Souza, a escravização de índios ganhou novos critérios, determinando-se que só a partir da “guerra justa” (ataques de portugueses a índios que se mostraram hostis) os nativos poderiam ser escravizados.
O segundo Governo-Geral, comandado por Duarte da Costa (1553/58), foi marcado por atos autoritários e sofríveis. O filho do governador-geral, Álvaro da Costa, por liderar uma campanha pela livre escravização dos índios, desentendeu-se com o Bispo Pero  Fernandes Sardinha, que tentou regressar a Portugal para comunicar ao rei os despropósitos praticados na colônia. Acabou falecendo no litoral nordestino, devorado por índios antropófagos após o naufrágio de seu navio.



Mesmo assim, com idas e vindas do governante, várias vilas foram fundadas; uma delas no planalto da capitania de São Vicente, chamada inicialmente deSão Paulo de Piratininga. Essa cidade fiou praticamente isolada de outras vilas, uma vez que, para chegar até ela, era necessário ultrapassar a “muralha”, nome pelo qual os exploradores se referiam à atual Serra do Mar.
Nesse mesmo período, ocorreu a invasão de franceses  huguenotes (calvinistas) no Rio de Janeiro, liderados por Nicolau de Vilegaignon. O sucesso dos franceses deveu-se a uma eficaz aliança com os indígenas locais, criando a Confederação dos Tamoios. Tal situação foi fruto da inabilidade política do governador que, ao permitir a livre escravização de indígenas, ameaçou inclusive tribos que outrora eram aliadas dos portugueses. Os franceses fundaram a França Antártica em 1555 e uma fortificação na atual Baía de Guanabara (Forte Coligny) e, a partir daí, os portugueses sofreram várias derrotas na tentativa de expulsar os invasores. O governo de Duarte da Costa foi um fracasso no sentido de resguardar a autonomia territorial.

Essa união de franceses e indígenas tamoios só foi derrotada durante a presença do terceiro governador-geral, Mem de Sá (1558/72). Em 1567, seu sobrinho, Estácio de Sá, aliou-se ao cacique Arariboia e alguns índios que mantinham rivalidades com os tamoios. Mais ao sul, na região de Iperoig (Ubatuba), foi fundamental a intervenção dos padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta,  que se infiltraram entre os índios, convencendo-os a mudar sua posição de se manterem aliados aos franceses. Anchieta chegou a ser aprisionado pelos indígenas, mas estes, temendo o poder bélico luso, decidiram ajudar na expulsão dos invasores. Após serem vitoriosos nos embates contra os comandados de Vilegaignon, os portugueses construíram um forte, batizando a localidade com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Entre 1612 e 1615, os franceses voltaram a ocupar o Brasil, desta vez no litoral nordestino: primeiro Sergipe e Paraíba e, depois, Maranhão, onde fundaram a cidade de São Luís, que seria a capital da França Equinocial. Porém, forças luso-brasileiras, lideradas por Jerônimo de Albuquerque conseguiram, mais uma vez, expulsar os invasores. Essa mesma força militar chegou a rumar mais para o norte, com o objetivo de conquistar o Pará. Em 1816, foi construído o Forte do Presépio, que deu origem a cidade de Belém.

Após o governo de Mem de Sá, uma nova experiência foi colocada em prática na administração colonial portuguesa. O Brasil foi dividido em dois grandes Estados. Maranhão (ao norte) e Brasil (ao sul), com o objetivo de garantir que as duas regiões pudessem ser melhor observadas. Os portugueses tentavam enfrentar o problema de controlar um território tão extenso quanto as dificuldades para ocupá-lo.



Nesse período, a principal fonte de renda na colônia continuava a ser o pau-brasil retirado da mata atlântica, de norte a sul do litoral. Com o Governo-Geral, cresceu a agricultura da cana-de-açúcar e os primeiros engenhos movidos à mão, a boi e, posteriormente, com energia hidráulica. A agricultura desenvolveu-se, principalmente, na zona da mata nordestina. Ali, originou-se uma sociedade agrária, com divisão em senhores de engenho, moradores da casa grande e escravos, habitantes da senzala. Havia também os agregados, que eram brancos pobres, em geral parentes do senhor de engenho, que se colocavam sob sua proteção.
Sintetizando, o governo-geral representou o deslocamento de poderes e atribuições concedidos aos donatários para outro órgão, que estabeleceu na colônia o poder metropolitano, intervindo diretamente no processo de colonização, racionalizando-o, centralizando-o e tornando-o mais eficiente.

No Brasil colonial, os municípios apresentavam a mesma estrutura jurídica que os da metrópole. Fundar cidades era uma necessidade do povoamento e da defesa da terra, além de tornar práticas a tributação e a arrecadação. Porém, as dimensões gigantescas da colônia geraram um distanciamento entre colonos e o poder central, dando uma certa “independência” para as cidades, que passaram a lutar para resguardar seus interesses. É nesse bojo que nasceram as Câmaras Municipais, com a função de organizar as vilas e povoados. Tais Câmaras ganharam força e prestígio, defrontando-se frequentemente com a administração central. Os vereadores eram escolhidos junto ao voto dos "homens bons", que nada mais eram do quegrandes proprietários de terra.

Pode-se, então, chegar a uma série de conclusões. Essa política portuguesa de ocupação das terras sempre privilegiou a grande propriedade rural, que era adquirida a partir de doações e não de compra. No longo prazo, ficou fácil perceber que essa política impediu a democratização do acesso à terra, criando uma espécie de linhagem de latifundiários que, devido às dimensões da colônia e às dificuldades para o governador-geral impor-se, não encontraram dificuldades para estabelecer seu poder local, muitas vezes com uma violência e um despotismo que em nada deviam às autoridades metropolitanas, como veremos mais adiante.


A “catequização” dos índios

O ato de catequizar consiste na doutrinação, em práticas devocionais e no próprio comportamento pessoal. No Brasil colonial, isso foi claramente usado para “aportuguesar” os índios, ou seja, para arranjar um lugar e um papel para os indígenas de acordo com a organização da sociedade portuguesa. Os representantes para tal fim, os jesuítas, percorriam o território brasileiro levando a mensagem divina e convertendo os índios que, caso se rebelassem, sofriam duras penas. Este processo foi unilateral, não havendo tempo para o índio assimilar tal conjectura social, somente para compreender, e na prática, que não era possível combater os portugueses, que dizimavam constantemente sua cultura.


via gai nete de historia

segunda-feira, 2 de março de 2015

Império Assírio: a vítima da intolerância do Exército Islâmico no Iraque

A destruição provocada pelos integrantes do Exército Islâmico no Museu de Mosul e na sua Biblioteca Pública ainda repercutem no mundo inteiro. 

Mas de que contexto são os artefatos ali destruídos? 

Vamos falar então, da antiga Mesopotâmia, um dos berços daquilo que entendemos por civilização.

MESOPOTÂMIA

Região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, cuja ocupação se iniciou no fim do período Paleolítico. Já no Neolítico, apresentava vários pequenos núcleos de povoamento, com a fundação de cidades, como Ur, por volta de 4000 a.C. Nesta região, desenvolveram-se vários povos -  babilônios, assírios e persas- que se aproveitaram da água dos rios para o plantio e a irrigação das regiões mais áridas. 

A organização política inicial destes povos se deu sob a forma de cidades-estado, administradas pelos sacerdotes em virtude da crença de que as terras pertenciam ao deus da cidade. Na Mesopotâmia, houve o desenvolvimento da escrita cuneiforme (aplicação de cunhas de madeira sobre tábuas de argila fresca) para registrar a produção agrícola dos camponeses, também servindo para o registro das leis, como o Código de Hamurabi, além de narrar a vida dos reis e outros eventos ligados à administração e religião.

Processo de organização dos povos da Mesopotâmia


Economia - De um modo geral, os povos mesopotâmicos desenvolveram a agricultura junto aos rios Tigre e Eufrates, utilizando, também, canais de irrigação para as regiões mais secas. O pastoreio de ovinos, bovinos e caprinos tinha grande importância. Quanto ao comércio, este se vinculava à extração de minérios (cobre, estanho, ferro, ouro), pedras preciosas, tijolos, mobiliário e ourivesaria, além de negociar o excedente de sua produção com regiões menos férteis e também terem o interesse pelo comércio de rebanhos de cavalos e camelos.

Cultura e religião - Os povos da Mesopotâmia eram politeístas, com a divinização de vários elementos da natureza, e tinham alguns deuses em comum (Shamash, deus do sol e da justiça; Ea, das águas; Anu, do céu; Ishtar, deusa do amor e da guerra). Havia também os deuses específicos de cada localidade: Marduck, dos babilônios; Assur, dos assírios. Todos estes povos tinham grande conhecimento em astrologia, matemática e arquitetura (construíram vários observatórios astronômicos, denominados zigurates, cuja precisão permitiu o acompanhamento de vários fenômenos naturais, tais como a passagem de cometas, eclipses e também a marcação dos ciclos lunares e solar).
Relato datado de 164 a.C. que registra a passagem do cometa Halley - Museu Britânico - Londres


Na área da literatura, destacam-se a existência de diversas bibliotecas, cujos textos se encontravam gravados em tábuas de argila com a escrita cuneiforme. Uma das obras mais importantes é a Epopeia de Gilgamesh, um herói que luta contra várias divindades em busca da imortalidade.

Fragmento de tábua de argila que traz o relato da Epopeia de Gilgamesh - Museu Britânico Londres



IMPÉRIO BABILÔNICO 

A cidade da Babilônia teve sua origem após a decadência do Império Acádio, que foi a primeira tentativa de unificação da Mesopotâmia sob a liderança do rei Sargão I, estabelecendo sua capital em Akkad. No Império Acádio, o poder estava centralizado na figura do rei, tornando-o divinizado. O sucesso de Sargão I estava relacionado com sua postura de não destruir a cultura dos povos dominados e pela utilização do arco e flecha no exército. No entanto, após a morte de Sargão, os povos dominados iniciaram várias revoltas. De 2050 a 1950 a.C., surgiu uma nova dinastia na cidade de Ur, reunificando a Mesopotâmia.

A partir de 1900 a.C., vários estados iniciaram uma intensa luta entre si, culminando no rei Hamurabi (1792-1750 a.C.), que foi responsável por um rígido código de leis (o Código de Hamurabi) baseado na pena do talião: "olho por olho, dente por dente", sendo que seus sucessores enfrentaram a invasão de vários povos asiáticos, como a dos hititas em 1137 a.C. A Babilônia só recuperou a independência com Nabucodonossor, mas, logo após sua morte, o império foi invadido pelos assírios.

O rei Hamurabi (em pé) recebe do deus Shamash o código. Logo abaixo, encontra-se esculpido em escrita cuneiforme. Museu do Louvre, Paris, França.

Detalhe ampliando o texto do Código de Hamurabi



Código de Hamurabi [fragmento traduzido]

Se um homem negligenciar a fortificação de seu dique, se ocorrer uma brecha e a seara inundar-se, o homem será condenado a restituir o trigo destruído por sua falta. Se não puder restituí-lo, será vendido, assim como seus bens, e as pessoas da área inundada repartirão entre si o produto da venda.
Se um homem der a um jardineiro um campo para ser transformado em pomar, se o jardineiro plantar o pomar e dele cuidar durante quatro anos, no quinto ano o pomar será repartido igualmente entre o proprietário e o jardineiro; o proprietário poderá escolher sua parte.
Se um homem alugar um boi ou um asno, e se nos campos o leão matar o gado, é o proprietário do gado que sofrerá a perda.
Se um homem bater em seu pai, terá as mãos cortadas. Se um homem furar o olho de um homem livre, ser-lhe-á furado o olho.
Se um médico tratar a ferida grave de um homem com punção de bronze e ele morrer, o médico terá suas mãos decepadas.
Se um arquiteto construir uma casa para outro e não a fizer bastante sólida, caso ela desabe e mate o dono, o arquiteto é condenado à morte. Se for o filho do dono da casa quem morrer, será morto o filho do arquiteto.

ISAAC, J.; Alba, A. Oriente e Grécia. São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.77.


O IMPÉRIO ASSÍRIO

A decadência do Império Babilônico favoreceu a penetração dos assírios (povo de origem semita, cuja principal atividade era o pastoreio), que fundaram um pequeno Estado com capital em Assur. Notórios por sua belicosidade, os assírios gradativamente construíram um poderoso império, principalmente nos reinados de Sargão II (722-705 a.C.), responsável pela conquista da Síria e a destruição de Samaria, capital do reino de Israel, e de Senaquerib (705-681 a.C.), que superou seu pai, atacando a Ásia Menor (portos gregos, fenícios e destruição da Babilônia).



Os assírios tinham uma estrutura de poder centralizada nas mãos do rei, que era divinizado, sendo visto como o próprio deus Assur. A manutenção do império se dava pelo pagamento de pesados tributos (principalmente para o contentamento do exército) e também pela intensa violência aplicada sobre os povos  subjugados. A expansão prosseguiu no reinado de Assurbanipal (668-626 a.C.), com a invasão do Egito, de Elam e de Susa (capital da Média). Entretanto, o Império Assírio era mantido em constante pressão pelos povos vizinhos e, com a gradativa recusa dos povos dominados a pagarem tributos, a crise tomou conta do império, que teve seu exército desarticulado
e acabou ruindo.

Representação do poder real assírio, séc. VIII a.C. - Museu Britânico, Londres, Inglaterra. 



SEGUNDO IMPÉRIO BABILÔNICO


A desarticulação do Império Assírio favoreceu um dos povos que lhes era submetido, os caldeus, que, através de uma aliança com os medos, implantaram uma nova dinastia sob a liderança de Nabopassalar. A partir de 605 a.C., sob o reinado de Nabucodonossor II, a Babilônia recuperou seu poderio, pois iniciou a expansão pelo Elam, Palestina, Síria e a região oeste da Mesopotâmia. Foi durante o reinado de Nabucodonosor II que ocorreu a deportação dos hebreus para a Babilônia como escravos, o chamado “Cativeiro da Babilônia”. Este rei ficou conhecido por mandar construir a Torre de Babel e os Jardins Suspensos da Babilônia, porém não conseguiu fazer um sucessor que continuasse a grandiosidade de seu reinado, e, por volta de 539 a.C., o Império Babilônico foi tomado pelos persas.


Porta de Ishtar 14,30 m de altura. Retirada da Babilônia e hoje parte do Pergamon Museum em Berlim, Alemanha.

A expansão dos persas sob o comando de Ciro, o Grande.


FONTE: GABINETE DE HISTÓRIA

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sucessora de Kamel
fecha o cerco à Dilma

Faria é uma homenagem ao estilo Globo de cobrir governos trabalhistas
Silvia e Ali: especialistas e símbolos do "jornalismo" do PiG
Saiu na Folha (*):

Silvia Faria substitui Ali Kamel como nova diretora de jornalismo da Globo



A TV Globo anunciou nesta sexta-feira (21) Silvia Faria como nova diretora da CCJ (Central Globo de Jornalismo). Ela substitui Ali Kamel, que foi promovido a diretor-geral de jornalismo e esporte.

Silvia, que está na emissora há 11 anos e era diretora-executiva de jornalismo da CCJ, foi chefe de Redação e diretora de jornalismo de Brasília. Antes da Globo, ela passou pela revista “Época”, pela Folha e pelos jornais “O Globo” e “O Estado de S. Paulo”.

A chegada de Silvia Faria ao cargo faz parte da reestruturação anunciada pelas Organizações Globo na quarta (19).

Octávio Florisbal deixará o cargo de diretor-geral da emissora e, a partir de janeiro de 2013, passará a integrar o conselho administrativo do conglomerado.

Ele será substituído por Carlos Henrique Schroder, atual diretor-geral de jornalismo e esportes. Ali Kamel, diretor da Central Globo de Jornalismo, sucederá Schroder.
Navalha
A nomeação de Silvia Faria dispensa aprovação do Senado Federal.
No entanto, sua nomeação é mais importante do que a de Embaixador, Ministro de Estado e Ministro do STF.
Silvia Faria formou-se profissionalmente no “jornalismo” que se opera em Brasília.
Ela é uma especialista e um símbolo desse gênero.
A nomeação dela por Ali Kamel significa que o método que o jornal nacional tem utilizado para cobrir Brasília e os governos trabalhistas acaba de conquistar a medalha de ouro.
É uma Paralimpíada de um vencedor só.
Com Ali Kamel promovido – clique aqui para ler o que isso significa – e o deslocamento de Silvia Faria para o ponto central, estratégico, do “jornalismo” da Globo dão a entender que os filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio – vão pra cima.
Eles não perdoam a humilhação a que Dilma Rousseff submeteu Fernando Henrique Cardoso.
Agora, não tem conversa !
“O cerco da Globo está se fechando”, disse um funcionário do Palácio do Planalto ao ansioso blogueiro, ao saber da promoção de Silvia Faria.
Clique aqui para ler “Dilma enfrente os bancos, mas não enfrenta o PiG”.




Paulo Henrique Amorim


(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é,  porque o dono é o que é; nos anos militares, a  Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.


FONTE:CONVERSA AFIADA

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Resenha do filme "Êxodo: deuses e reis", direção de Ridley Scott (2014)

  via GABINETE DE HISTÓRIA

Literatura versus Cinema sempre renderam uma boa briga, porque nem todas as eventuais adaptações do texto para tela alcançam a unanimidade dos fãs de uma e outra linguagem. 
Basta conversar com os devotos de "Harry Potter" e de "O Senhor dos Anéis" que as diferenças de opinião se manifestam facilmente. Isso para não falar de outras dezenas de obras. 
Mas, se falarmos que o texto é o Pentateuco, o qual integra a Torá (livro sagrado do judaísmo), o Antigo Testamento da Bíblia para os cristãos e tem ligações com o Corão, livro sagrado do Islã?
A situação se complica bastante.
O filme “Êxodo: deuses e reis”, dirigido por Ridley Scott em 2014, não é o primeiro a tratar da famosa história de Moisés e a busca da Terra Prometida e nesse caso, no imaginário coletivo ainda sobrevivem as referências do clássico filme de 1956, dirigido por Cecil B. DeMille e protagonizado por Charlton Heston como Moisés e Yul Brynner  como Ramsés, assim sendo, a comparação e a expectativa seriam inevitáveis.
Ridley Scott tem um curriculum invejável, marcado por inúmeros sucessos de público e crítica, dotados de um elevado padrão de qualidade em diferentes frentes: a execução do filme, a escolha de bons roteiros, pesquisa histórica, efeitos especiais e elenco de alto nível. No entanto, este background todo não foi suficiente para segurar a má recepção, tanto dos laicos quanto dos religiosos.
Scott optou por não fazer um decalque do filme de DeMille, portanto, ao contar a sua história, o caminho foi fugir dos cânones  (do cinema e da fé), sabendo que o risco seria grande. Na verdade, não é uma novidade tal opção, pois em “Gladiador”(2000), Scott construiu uma poderosa ficção para contar a epopeia do general Maximus que de preferido do imperador Marco Aurélio torna-se inimigo do seu sucessor, Cômodo, que assassinara o pai para assumir o trono, ao saber do plano de Marco Aurélio para restaurar a República, sob o controle de Maximus.
Ciúmes, ganância e loucura temperados com ficção (Cômodo não matou Marco Aurélio; nunca houve um plano de restauração republicana em Roma e Maximus era um personagem fictício) que renderam um excelente resultado, pois renovou a produção de filmes épicos e estourou como um sucesso milionário.
Bem, ao lidar com Moisés, este formato de mesclar ficção e história tem fator de complexidade ampliada: Moisés é um personagem venerado por judeus, cristãos e muçulmanos (metade da Humanidade se somarmos as três crenças) e o texto sagrado tem para os religiosos a condição de “Verdade”, quer dizer, tudo aconteceu daquele modo. Já para os estudiosos laicos, as dúvidas são imensas, seja do personagem em si (a existência de Moisés e a atribuição da autoria do Pentateuco), como dos fatos citados (condição dos hebreus no Egito, as ações de Deus, guiando Moisés na sua fuga) e desse modo, lidar com uma leitura pessoal sobre o tema seja tão complexo quanto manipular nitroglicerina.
Os grupos radicais presentes no judaísmo, cristianismo e islamismo não admitem qualquer questionamento de sua verdade e as tensões envolvendo grupos fundamentalistas é crescente: lembremos dos recentes atentados em Paris ou mesmo as execuções do Exército Islâmico, bem como, aumento da intolerância de certos grupos cristãos neopentecostais para com o catolicismo, espiritismo e as religiões de matriz africana no Brasil. 
Obviamente, sei que os eventos ocorridos no Brasil são poeira perto da barbárie praticada em outros lugares, mas é interessante apontar tal foco de tensão,  que sorrateiramente cresce, colaborando para mostrar que o brasileiro não é tão cordial quanto tenta parecer e também não somos uma democracia racial e muito menos religiosa, onde todos vivem harmoniosamente.
Ridley Scott escalou Christian Bale, muito celebrado pela trilogia de Batman dirigida por Christopher Nolan, portanto, transmitiria significativa credibilidade ao interpretar o papel de Moisés. Não foi o caso, pois o Moisés de Scott saiu como um jovem orgulhoso, sarcástico e quase agnóstico, sendo que, ao ser revelada a verdade sobre a sua origem, Moisés tenta se transformar numa espécie de líder guerrilheiro treinando um exército para lutar contra o poder do seu irmão de criação, Ramsés. 
Depois, ocorre a transição do líder militar para o líder espiritual, mas tudo acontecendo como eventos da Natureza, sem Moisés como o “instrumento de Deus” e por falar no “Todo-Poderoso”, este aparece a Moisés como um  frágil menino maltrapilho. Pelo que sabemos, o "Deus menino" está na outra parte: o Novo Testamento.
Então , qual seria o papel de Moisés, se Deus fez tudo? Aliás, tudo foi feito de tal modo, que  Moisés saiu molhado do Mar Vermelho...
O antagonista Ramsés, interpretado por Joel Edgerton, se parece com um moleque mimado, superprotegido pela mãe e negligenciado pelo pai. Suas ações são movidas pelo egoísmo e ciúmes e nada lembra o estadista Ramsés II, que governou o Egito entre 1279 e 1213 a.C., num período de significativa prosperidade.
Se Scott buscou uma releitura da narrativa lendária, se apropriando do mito num processo de reconstrução, o choque com a tradição seria inevitável.
Por exemplo, ao mostrar a opulência do Egito de Ramsés, muitas obras (palácios e templos) aparecem no cenário construído pela computação gráfica, mas em uma outra tomada, pirâmides em construção, como se ainda naquele contexto, as pirâmides de Gizé ainda não existissem. Erro crasso, afinal, ambienta-se o Êxodo no século XIII a.C., período do chamado Novo Império, enquanto as pirâmides foram construídas no Antigo Império (séc. XXVI-XXV a.C.) e nisso temos uma diferença de mais de mil anos.
Há outro ponto de forte controvérsia: o texto bíblico fala em “escravidão do povo hebreu”, enquanto muitos arqueólogos e historiadores contestam o fato, levando em conta as pesquisas mais recentes e as evidências históricas alheias ao texto bíblico. Nesse ponto, Scott optou por seguir a tradição.
Sabemos que inúmeras gerações de hebreus construíram oralmente a tradição no passado e só bem depois, por volta do século VIII a.C. começaram as ser registradas as informações que se transformaram na Torá, portanto, na análise destes textos, a condição alegórica e mitológica é marcante, não sendo possível conferir-lhes o status de “Verdade inquestionável” como a religião faz, seja pelo seu processo de organização, seja pelas edições e traduções que sofreu.
Então há uma Verdade? Qual seria a “História oficial”? E haveria algum limite para a licença poética do diretor?
A resposta depende do campo onde se encontra o leitor e nesse aspecto, cinéfilos laicos e religiosos encontrarão muito espaço para discutir, já os extremistas nem isso farão, pois o filme já foi visto e proibido em vários países, rotulado com “blasfêmia” e assim, a defesa cega da Fé abre mais espaço para a intolerância e violência.

Ridley Scott não quis blasfemar contra a fé de ninguém ou fazer polêmica pura e simplesmente para mais publicidade e lucro, do ponto de vista cinematográfico, entendo que este não é o seu melhor filme, porém pode-se dizer que nos ajuda a entender como estamos ameaçados por aqueles que desejam suprimir os conceitos de liberdade de expressão e de pensamento em troca de submissão e obediência cega.
Os antigos romanos bem diziam: "Ubi dubium ibi libertas", quer dizer, "Onde há dúvida, há liberdade"
Que assim seja sempre!
Sugestões do Gabinete:
"Os dez Mandamentos". Direção de Cecil B. DeMille, 1956, 220 min: 
"O Príncipe do Egito". Direção de Brenda Chapman, 1998, 110 min: